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O que aprendemos com a morte?

A morte é o início de um novo ciclo; para quem vai ou para quem fica.

(Dedico esse texto à todos que em vida foram especiais e importantes na minha evolução, em especial à minha prima Marcella Carvalho).

Ao longo da jornada da vida estamos sujeitos a lidar com perdas inesperadas, ainda não descobri nenhuma fórmula mágica que cure o vazio que nada preenche, saudade define o abismo que se forma diante dos pés e que lentamente se ameniza com o passar dos dias. Sempre lembro de uma frase que a minha avó dizia quando eu ia brincar na rua, sabiamente ela me alertava sobre dedicar atenção sempre que fosse atravessar a rua, dizia: "Perca 1 minuto na vida mas não perca a vida em 1 minuto", apesar de na época eu achar engraçado ela falar isso, hoje agradeço os ensinamentos e compartilho.




Morrer é clichê e certo, ninguém escapa, alguns jovens e outros nem tanto, a vida é breve em seu curto espaço de tempo que pode ser vivido em instantes ou a perder de vista. A morte não escolhe idade, sexo, gênero, opção sexual, religião, quem dirá status, conta bancária ou quem ganhou na loteria, ninguém está safo do final. 

Ao longo das minhas 3 décadas de vida precisei lidar com a morte de entes queridos, amigos e conhecidos, com o passar dos anos vamos nos dando conta do quão somos breves e do quanto precisamos ser e estar presentes, a rotina nos rouba a consciência e estado de presença, é normal deixarmos para depois e nos convencermos que o dia de amanhã existirá sem sombra de dúvidas, guardamos aquele "eu te amo" que deveria ser dito agora mas que as vezes o destino se encarrega de guarda-lo pela eternidade dentro de nós. Lembrete: não deixe para dizer amanhã o que precisa ser dito hoje, ok?


(Rio de Janeiro, 2015) - Minha metade bicho grilo, caçula e prima, Marcella Carvalho. (2000-2018)

A morte - como já falei antes - é certa, não sabemos quando ela virá, é bilhete premiado, passagem de volta, caixinha de surpresa! A morte é esperança de renovação para quem fica, é introspecção, silêncio, abismo, dor, ausência, mas é também um degrau que subimos dentro de nós com forças que jamais imaginamos ter, morte é ausência física, espiritual não. A morte faz parte do ciclo que viemos cumprir no mundo terreno, acredite você ou não em vida após a morte - isso é indiferente nesse contexto aqui.

A morte de alguém que amamos faz com que um mergulho para dentro de nós seja dado, refletimos a vida - essa que esquecemos de lembrar e agradecer diariamente -, repensamos problemas dos mais diversos níveis, abandonamos pensamentos, lembramos do que realmente é importante nessa vida, lembramos do amor, das amizades verdadeiras e também de todas as outras coisas que dinheiro nenhum compra. A morte muitas vezes é para nós também, morremos um pouco com quem parte desse plano e nos deixa órfã(o) de presença, vida é presença e só lembramos dela quando precisamos lidar com a morte, infelizmente muitos de nós somos assim.

Assim como nascer, a morte de alguém que amamos é um evento e fica para sempre marcado em nós, é cicatriz na alma, tatuagem na pele, mas o que aprendemos com a morte? A morte é o encerramento de um ciclo, alguns vivem 17 anos em 100, outros vivem 100 anos em 17. A morte ensina que nada além do intangível é mais importante que estar aqui, esquecemos que a vida não é só trabalho-casa-trabalho, a vida é muito mais que fazer e ter, a vida e ser e estar. Quantos choram no leito de morte de entes queridos mais pela culpa da ausência do que da falta que fará nos dias? A morte nos ensina que a presença é mais importante que presentes e status, enquanto cultivarmos mais a nossa ganância de ter mais, deixamos de ser mais também. A morte ensina que o abraço é mais importante que o presente recebido, que o beijo é mais importante que o jantar a luz de velas, que "fazer sentir" é melhor que apenas "fazer", a morte é o doutorado dos que ficam e que realmente mudam a partir desse evento dentro de seu ciclo familiar e social. 


Em memória de uma grande amiga, Rúbia. (Santos-SP, 2007)


Apesar da falta que fazem por aqui, todos que partiram deixaram para nós uma lição, um presente da vida que nos cabe refletir sobre o que é, isso se chama "evoluir". A morte nos ensina a evoluir como seres humanos, salvo as pessoas que não entendem essa parte do ciclo, precisamos lembrar que somos breves por aqui e que além disso daqui também há vida, independente de como e onde for, a morte é o sono eterno da matéria, somos almas que habitam corpos em expansão, em fase de criação e evolução, morte é vida em liberdade. 

Infelizmente o mundo caminha para o abismo de nós mesmos, alguns em algum momento despertaram para a vida e para qual sentido, razão e propósito nos trouxe até aqui, somos fantoches de nós mesmos enquanto levarmos uma vida por levar, enquanto acharmos que só sobrevive na selva quem for melhor ou mais esperto, a vida traz a morte para perto de nós de alguma maneira para nos alertar que o final é igual para todos; melhores ou piores, espertos ou bobos, ricos ou pobres. A morte de quem amamos é um lembrete de que a vida é passageira e que não vale a pena perder tempo com bobagens, precisamos lembrar que respirar é presente divino - aproveite este tempo e se dê conta do ritmo da sua respiração, preste atenção no seu respirar, encha os pulmões de ar e solte lentamente, esse privilégio é um presente da vida para você. Quantas vezes você presta atenção em você, no seu respirar, nas batidas do seu coração? Quantas vezes percebe seus olhos piscando, o movimento da língua que molha os lábios secos, os movimentos do corpo durante o espreguiçar? A vida é isso e a morte também, a morte nos faz lembrar do que realmente é essencial e importante nesse grão de areia chamado mundo e nesse pequeno conjunto de átomos que compõe seu organismo e corpo. 


Em memória dos meus avós - os melhores do mundo -, Nei e Iara.

Muitos não compreendem os desejos do universo em levar quem amamos, é preciso abrir os olhos - que muitas vezes já estão abertos - para entender as lições que essa parte que nos foi arrancada pode nos ensinar também, a dor é o aprendizado dos que buscam evoluir nessa selva chamada mundo, o contexto de vida e morte é o mesmo, precisamos ser e estar mais, se nesta vida não buscarmos entender o que realmente viemos fazer aqui e o que realmente é essencial nessa passagem breve, ainda assim, a vida valeu a pena. 

Me conte nos comentários o que você aprendeu - ou não aprendeu - com a morte de alguém que você ama, sua opinião é importante para mim. 


Até breve,
Luciana C.


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