Descobri que o silêncio que vem da alma tem muito mais a dizer do que os nossos próprios pensamentos. Em uma era tão digital é quase impossível saber quem é de verdade e quem é de mentira, somos sempre a melhor foto, o melhor clique e a felicidade estampada quase que diária nos registros fotográficos.
Quando me perguntei quem eu era pela primeira vez, mal sabia quem eu seria hoje. Já fiz muitos planos, já quis a loucura de uma vida corporativa cheia de regras, fiz faculdade, pós graduação, intercâmbio, planejei comprar casa, carro, terrenos e investir na bolsa, já realizei muitos sonhos até chegar aqui, falo inglês fluente, já frequentei os melhores restaurantes de São Paulo, já viajei o Brasil inteiro, pulei de paraquedas, fui pra Disney, comprei moto, aluguei um carro para viajar pela califórnia, estou no meu 3º passaporte, tomei ayahuasca, dancei em festival trance, dei entrevista para o núcleo de mulheres empreendedoras do Brasil, recebi troféu da USP de melhor monografia do MBA, fui eleita diretora acadêmica de esportes na faculdade, dirigi kombi, fiz tatuagem com a minha mãe, fiz regressão, meditei em templo budista e tibetano, já sofri acidente de carro, fui atropelada, retirei a vesícula em uma crise biliar de quase óbito, viajei todo o litoral nordestino de carro, fiz dread com uma hippie na Chapada dos Veadeiros, já cai de quadricículo dentro de um rio, joguei 6 anos de handball, já fui atirar em clube de tiro, já assisti corrida de cavalo de jockey, apostei dinheiro em cassino, subi no Cristo Redentor, pilotei jet sky, viajei de lancha para Abrolhos, vi baleias, golfinhos e nadei com tartarugas, já fui campeã de kart indoor, já comprei ações na bolsa de valores, paguei minha faculdade, fiz pós graduação na USP, fui gerente, executiva, empreendedora, professora, palestrante e tive um bloco semanal em uma rádio local.
Mesmo depois de refletir sobre tudo o que já fiz e fui, mesmo depois de ver o quanto já vivi em 30 anos, ainda assim a coisa mais importante do que todos esses feitos foi descobrir que a vida é realmente feita de momento e que somos esses momentos a cada instante. Somos instantes.
Responder sobre quem somos de verdade está muito além desses momentos e histórias que colecionamos. Quando me pergunto quem eu realmente sou, ainda que eu lembre tudo o que eu já fui e fiz, hoje eu penso sobre o que todos esses instantes me acrescentaram como ser humano. Viver, apesar de todas as dificuldades, é um privilégio. Descobrir quem somos é a cereja do bolo.
Quando paro para pensar sobre quem eu sou, o que realmente fica estampado é que eu sou do mundo e que a cada novo desafio cumprido eu afirmo ainda mais que eu sou e sempre fui dona de mim. Descobri que sou força, fé e intuição em cada pequena conquista, descobri que quando resolvi seguir o meu coração a vida me deu todos os recursos que eu precisava para o momento, hoje não é diferente.
Abri mão de emprego formal, deixei de lado o ego de viver por dinheiro e aprendi a viver com pouco. Descobri o minimalismo e aos poucos reduzi as minhas conquistas de 30 anos em uma única mala. Abri mão de comprar roupas todos os meses, abri mão de comer todas as semanas em restaurantes, contive meu desejo por novos equipamentos eletrônicos, vendi as coisas que não uso mais e doei outras, aos poucos fui renovando a minha alma e deixando de carregar coisas para carregar somente o necessário para o aqui e agora.
Quem eu sou? Talvez hoje eu possa dizer que depois de tantos encontros e desencontros de mim, ainda continuo me desafiando e buscando a minha melhor versão. E você, quem é de verdade?
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